Leitura de 5 min
Imagine a cena: você olha para o lado e nota que seu colega de trabalho está trabalhando, em frente ao computador, agachado no chão e com o computador em cima da cadeira ao invés da mesa. Se essa posição lhe parece estranha e desconfortável, pode ser que você esteja entre as pessoas que estão esquecendo como ser um humano.

Adriano Teles propõe que transformemos nossas cadeiras em nossas mesas e trabalhemos ou estudemos agachados por alguns minutos por dia para resgatarmos esse movimento funcional! A esse projeto ele dá o nome de: SCIT – Squat & Chair Is the Table (Agache & A Cadeira É a Mesa)
Não entendeu? Explicamos: o agachamento é um movimento básico e natural para o corpo. Quando criança, agachamos sozinhos, sem ninguém precisar nos ensinar. Entretanto, todo esse tempo que passamos sentados tornou essa atividade “não natural” para a maioria de nós, que não consegue mais nem agachar profundamente e nem repousar nessa posição pois sente desconforto nos joelhos, quadris ou na parte inferior das costas.

O agachamento é um movimento natural para o corpo. Quando criança, agachamos sem ninguém precisar nos ensinar.
Embora nos pareça normal nos dias de hoje, todo esse tempo que passamos sentados traz malefícios para a nossa saúde. Estudos demonstram que sentar demais não afeta apenas a saúde das costas, mas também reduz nosso metabolismo dramaticamente, além de poder aumentar o colesterol ruim, as chances de infarto e a resistência à insulina (confira alguns estudos aqui, em inglês).
Nosso corpo não foi projetado para ficar sentado 8h/dia trabalhando e nem mais algumas horas em casa no sofá assistindo televisão. Enquanto você está sentado confortavelmente em uma cadeira por horas a fio, seu corpo está implorando para ficar em pé. Nosso sistema circulatório depende que estejamos minimamente ativos para que possa funcionar adequadamente, já que a estrutura do nosso corpo não é própria para uma vida sedentária. Parece estranho? Dá uma olhada nesse vídeo:
5 Comprovações de que o corpo humano foi feito para agachar
Se mesmo assistindo a esse vídeo você ainda não se convenceu de que ficar sentado não deve ser sua posição preferida, apresentamos cinco evidências de que o agachamento é um dos movimentos mais naturais para a vida humana.
- É a posição mais eficaz para se fazer cocô.
Estudos comprovam que a posição de cócoras facilita a evacuação e diminui a incidência de hemorroidas (confira mais informações aqui). - É uma das posições mais recomendadas para o parto.
Ficar de cócoras abre a pelve da mulher que está em trabalho de parto em cerca de dez por cento a mais. Considerada a posição mais fisiológica, não possui contraindicação para quase nenhuma gestante (confira as informações do Ministério da Saúde aqui). - É um dos primeiros movimentos que a gente aprende quando criança.
Os bebês aprendem a agachar naturalmente. Sem que ninguém tenha que lhes ensinar, utilizam a posição para brincar e pegar objetos no chão. - É como é feito na roça.
Este olhar para as sociedades que ainda não foram dominadas pelos costumes da vida moderna nos traz ótimas informações sobre bem estar e qualidade de vida. Quem tem uma (sortuda) passagem pelo interiorzão sabe: é habitual ficar agachado para comer, conversar, ver o movimento da rua, descansar, palitar os dentes… - Pode aumentar a sua longevidade de vida.
Um estudo feito pelo brasileiro Claudio Gil Araujo demonstra que a expectativa de vida pode ser determinada pela capacidade de realizar agachamentos. Por meio do teste SRT (Sitting-Rising Test), Araujo pontuou a capacidade de agachamento de pessoas acima de 50 anos e detectou que, a cada ponto a mais que recebia, uma pessoa reduzia sua probabilidade de mortalidade em 21% (leia mais sobre o estudo aqui, em inglês).
Curiosidade
O Comitê Olímpico da Rússia para promover os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 e a saúde da população instalou uma máquina no metrô de Moscou que conta seus agachamentos. Quem quisesse pagar sua tarifa de metrô, bastava fazer 30 agachamentos na frente da máquina e viajaria de graça! Veja o vídeo abaixo como foi a campanha:
Como incorporar agachamento ao seu dia
Na maior parte das nossas atividades do dia, estamos sentados. E mudar essa situação não é fácil: dificilmente você vai conseguir dirigir agachado em cima do banco ou se livrar definitivamente da cadeira para trabalhar em frente ao computador.
Pode ser uma solução tentar incorporar o agachamento aos poucos.
Separar 1 a 10 minutos de agachamento a cada 1 a 2 horas em frente ao computador, por exemplo, é um bom começo para reincorporar esse movimento em sua vida.
Experimente transformar sua cadeira em uma mesa para o computador e trabalhe agachado com os pés no chão.
Seguem mais algumas dicas:
- Os pés devem estar mais ou menos na largura dos ombros, isso varia de pessoa para pessoa, o importante é relaxar e encontrar uma posição que te permita agachar mais profundo.
- Se te ajudar, gire um pouco os pés e force os joelhos para fora. Você pode praticar empurrar os joelhos para fora com os cotovelos e juntando as mãos como se fosse rezar.
- Você pode tentar com tênis, mas descalço é ainda melhor.
- Mantenha os calcanhares no chão, se possível. Se não conseguir, coloque algo (uma ripa de madeira, uma anilha, uma palmilha) no calcanhar para te dar suporte e progressivamente vá diminuindo a altura do suporte até conseguir ficar com os calcanhares no chão.
- Dores no joelho ou no quadril? Levante, caminhe, chacoalhe e tente agachar novamente algumas vezes.
- No primeiro dia, tente agachar e marcar quanto tempo você consegue ficar sem se levantar e sentir dores. A cada 1h agache novamente e fique esse mesmo tempo.
- Progrida até conseguir ficar cerca de 10min seguidos agachados sem se levantar ou sentir dores.
- Ido Portal, israelense e um dos ícones da cultura física do movimento, promove por todo o mundo que o ser humano deve se movimentar mais e dá mais algumas dicas para você exercitar o seu agachamento. Ido já passou algumas temporadas no Brasil estudando e praticando capoeira, que hoje fazem parte da sua extensa gama de padrões de movimento que ele estuda e dissemina pelos quatro cantos do planeta. Confira: