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Parte 3 – Algo Mágico Aconteceu
Antes do capitão mudar de ideia, antes de completarmos os 40km, 10km antes, algo mágico aconteceu.
O sol nasceu! Foi uma emoção muito grande! A sensação de estar no mar, cercado por água por todos os lados, e assistir o sol cruzar a linha do horizonte foi espetacular.
O nascer do sol representava o final da remada a noite, obviamente, e um marco na nossa travessia. Ao mesmo tempo que a noite estava sendo prazerosa, estava sendo tensa, pois tínhamos que ficar bem perto do barco e uns dos outros, e olhando fixamente apenas para as luzes de sinalização.
Nosso consolo era que a temperatura era mais amena e vivíamos uma experiência única. As luzes de baixo do barco iluminavam um raio de mais ou menos 1m e criavam, na água do mar, um azul cintilante e transparente surreal! Seria fácil reconhecer um tubarão se ele nadasse ali em baixo.
De qualquer forma, estávamos prontos para nos despedir da escuridão, que durou cerca de 6h.
Agora era hora de dar oi para o dia, que viria a durar cerca de 10-12h!
Com a claridade, estávamos livres, poderíamos remar um pouco mais longe uns dos outros e tínhamos um horizonte infinito para podermos contemplar. Até a postura da remada melhorou, ficamos mais eretos, peito mais aberto, melhorou até para respirar. Nossos olhos miravam para longe em busca dos primeiros prédios que viriam a surgir.
Os primeiros prédios apareceram no horizonte cerca de 2h após o sol raiar.
Podíamos olhar um para o outro e reconhecer a expressão facial de cada um, criando ainda mais conexão entre a equipe!
Como seguíamos das Bahamas para a Florida, estávamos indo do leste para o oeste, ou seja, o sol nasceu nas nossas costas. Por isso, foi preciso fazer um break para nos virarmos para testemunhar esse momento mágico. Foi uma emoção muito grande ver aqueles feixes laranjas riscarem o céu! Com sorriso no rosto, vibramos muito e gritamos: “Kamonnn!!!”.
Aproveitamos também para nos hidratar, alongar e nos proteger dos raios e do calor, que seria nosso próximo desafio na travessia.
Passei protetor solar, coloquei uma camiseta UV de manga longa, luva, óculos e um protetor de pescoço. Mantive o boné, que me acompanhava desde o km zero.
Após esse break, a remada era outra, parecia que havíamos começado outra travessia. Eu me sentia renovado. E empolgado.
Uma das estratégias que usei, que existe há milhares de anos, para fazer a travessia parecer menos longa foi dividir ela em partes menores e me concentrar ao máximo nessas pequenas etapas, deixando de lado os 120km.
Quando completamos 3%, 10%, 25%, meia maratona, uma maratona, quando o sol nasceu, tudo isso foi motivo para celebrar. Até os imprevistos, como o problema no remo, tudo isso me ajudava a me distrair e me aproximar da Florida, muitas vezes sem nem ver o tempo passar.
Aos poucos, essas marcas iam se acumulando e o volume de km percorridos crescia e quando eu me dava conta, já havíamos remado bastante, ou seja, o fim estava logo ali haha!
Os primeiros 4km do alvorecer foram nossos 4km mais rápidos até o momento. Ficamos ainda mais animados! Se mantivéssemos esse ritmo, conseguiríamos completar a prova dentro das 18h.
Mas, já nos 4km seguintes, nosso ritmo caiu um pouco de novo.
E nos outros 4km, caiu mais ainda…
Nosso capitão tentou ajudar. Pegou uma prancha com o Jordan e tentou remar. Na verdade, antes de tentar remar, ele primeiro tentou ficar em pé na prancha. Depois de um bocado de tentativas, caindo uma atrás da outra, não conseguiu se levantar e achou melhor voltar para o barco. Nós também preferimos assim haha!
Foi aí que paramos para discutir sobre a nossa média geral de velocidade. Foi aí que surgiu a ideia de sermos rebocados, foi aí que o capitão mudou de ideia.
A nova ideia do capitão, pra mim, era ainda menos desejada. Eu não queria sair de cima da prancha e, para a minha frustração, a nova ideia era contrária à minha vontade.
O capitão decidiu que me rebocar não faria muito sentido. Por mais que eu estivesse em cima da prancha, o aspecto RX da travessia já teria sido desconfigurado e o reboque faria a gente se mover mais lento e representaria um risco maior de acidente.
O capitão então falou: “A palavra final é minha Adriano, suba na lancha. Nós vamos de lancha agora…”