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Parte 5 – Maratona Final
“O tamanho dos seus Sonhos deve sempre superar sua atual capacidade de alcançá-los. Se seus sonhos não te assustam, eles não são grandes o suficiente.” Ellen Johnson Sirleaf
Como terminou a Parte 4
Acho que tínhamos um pequeno problema pela frente, de novo…
Tubarões
Por falar em problema, o que mais me perguntaram sobre a travessia foi a questão da região ser infestada por tubarões.
O fato é que a chance de alguém morrer atacado por um tubarão é menor do que por um asteroide.
Os tubarões são nossos amigos! É verdade que existem mortes decorrentes de ataques, mas são raríssimas e, quando ocorrem, como é o caso de Recife/PE, tem a ver com um desequilíbrio do habitat natural.
Já mergulhei com uma centena de tubarões e nunca precisei portar nada para me defender e nunca senti perigo. Inclusive, entrei na água diversas vezes com o #FofoLeo (meu filho), nessa viagem, exatamente onde vimos dois tubarões, uma nas Bahamas e outro em Turks and Caicos.
Por que eu levava uma faca na perna então? Para uma possível defesa defesa de tubarão? Também, apesar da remota possibilidade, mas principalmente para resolver imprevistos, como me desvencilhar de uma linha, anzol, rede de pesca ou para cortar alguma coisa. O segundo motivo é porque it looks so cool! Haha!
Precisei usar a faca? Sim! Usei-a para abrir uma garrafa e retirar pedras grandes de gelo para colocar na minha mochila de hidratação.
Por mais que a gente brinque ou faça um suspense acerca dos tubarões, na maior parte das vezes, eles não representam risco para o ser humano.
Milhas Extras
Tínhamos um problema muito maior para resolver pela frente, 15km maior!
Por que achei que faltavam 30km e o capitão 45km? Por que a distância não batia? Porque ela foi medida em linha reta, das Bahamas para a Florida, mas de SUP, a gente fazia pequenos zigzags, especialmente em alto mar, por dezenas de quilômetros. Esses zigzags geraram quilômetros no meu relógio, mas não nos aproximavam da chegada.
Antes da largada, eu até tinha perguntado para um participante se ele sabia se os 120km levavam em consideração os zigzags. Ele respondeu: “Ah, claro que sim! Se não, a gente iria ter que remar muito mais e eles teriam nos avisado!”.
Bom, ninguém nos tinha avisado e esses 15km adicionais, em cima dos 90km que já havíamos percorrido, representavam 16%. Em 120km, 16% significam 19km extras. Eureka! Havíamos acabado de descobrir, the hard way, que nossa travessia seria de 139km!
Para algumas pessoas, descobrir isso, especialmente depois de 10h no mar, é um pesadelo. Esse tipo de notícia, recebida nessas circunstâncias, destróem o mental de muita gente.
Em momentos assim, se você permitir que pensamentos negativos entrem na sua cabeça, se você se deixar abalar e não se restabelecer, se você perder o foco do que tem que fazer, você vai sofrer muito e, provavelmente, não irá conseguir cumprir sua missão.
Por sorte, a solução desse problema era bem simples: remar, até chegar na praia.
Para mim, isso soou como boas notícias. Fiquei feliz, juro! Pensei: “[email protected]@lho, então falta mais uma maratona! Irado!!! Vou completar duas, 100km e quase completar três! Massa!!!”. Na minha cabeça, isso era uma espécie de recompensa dos mares por todo nosso esforço até agora.
Segui remando! Nada iria me impedir de continuar em cima daquela prancha. Nada! A não ser, talvez, uma autoridade hehe.
A Razão
A razão principal da travessia é chamar atenção para arrecadar fundos para ajudar crianças portadoras da fibrose cística.
Cada pessoa que tentar fazê-la deve arrecadar US$ 1000.
Ainda faltam US$ 200 (em 30.06.2018) para eu atingir os US$ 1000! Se ainda quiser contribuir, há tempo (até 31.07.2018). Qualquer quantia é bem vinda.
- Doe direto pelo link:
https://www.crowdrise.com/o/en/campaign/pumpfit-club-family/adrianooliveira - Ou, transfira para minha conta que depois eu faço a doação em seu nome:
- Banco do Brasil
- Agência 1606-3
- Conta 35555-0
- Me manda uma mensagem avisando, pode ser pelo instagram.com/adrianoteles ou facebook.com/adrianoteles.
Sol
Com o cansaço se acentuando, começamos a aumentar a frequência dos intervalos de descanso e nutrição. O plano agora, era aguentar sem parar por 1h.
Aumentamos só a frequência porque, com o sol cada vez mais forte, ficar parado também castigava. A ideia era fazer breaks de 5-7 minutos, o suficiente para beliscar algo (sanduíche de pasta de amendoim com geleia de morango, biscoito de gergelim, barra de cereal e gummy bears, ahhh gummy bears, nunca foram tão saborosos), beber água (500ml a 1l), dar um mergulho, fazer um check-in de como cada um estava e deixar o pé dentro d’água, mexendo bem os dedos, principalmente os dedões, que estavam completamente dormentes há horas!
Ps.: meu dedão do pé esquerdo continua dormente após 14 dias da travessia.
Seguimos remando!
O sol continuava a subir e a esquentar! 38º! Decidi calçar uma meia alta para proteger os pés, canela e panturrilha. Não sabia se iria deixar meus pés escorregadios, então o jeito foi testar. Deu certo! Segui com ela por várias horas!
Em um dos breaks, tive uma vontade de deitar. Acho que durei 3min nessa posição. O sol no rosto era muito forte, cobri com um boné, mas ainda sim, deitado, os raios pareciam atacar ainda mais. Fiquei assim o suficiente para dar algumas respiradas fundas, relaxar um pouco, para em seguida sentar, ficar de pé e continuar remando.
Corrente
A corrente marítima trazia consigo mais velocidade, instabilidade, emoção e também uma força maior do lado direito, que exigia que compensássemos remando mais o lado esquerdo.
Por pelo menos 4h, remei cinquenta a cem vezes o lado esquerdo para uma vez com o lado direito. Cheguei a remar mais de trezentas vezes o lado esquerdo sem alternar uma vez se quer com o lado direito.
Seguimos!
Depois de cerca de 12h, começamos a nos distanciar um dos outros um pouco mais e fizemos alguns breaks separados. Cada um fluia, agora, um pouco mais no seu próprio ritmo. O PO parecia ter apurado sua técnica e em alguns momentos conseguiu liderar bem a frente!
Em um break, ele me falou: “Meu, você tem que botar uma música! Depois que comecei a ouvir um som, tudo mudou! Pega um fone aí e manda ver!”
Tentei conectar meu fone (bluetooth e resistente à água) ao celular, mas por algum motivo, não funcionou. O PO insistiu para eu continuar tentando, mas não queria mais perder tempo com aquilo e escolhi que faria a travessia, do início ao fim, sem ouvir nenhuma música. Seria mais um diferencial para agregar à minha experiência!
Faltando cerca de 30km, avistamos algas! Elas se aglomeravam formando ilhas douradas, do tamanho de um campo de futebol. Cruzamos bem no meio delas! Apesar delas se prenderem de leve nas pás do remo, curti muito o momento. Foi uma sensação bem prazerosa.
Reta Final
Quando faltavam cerca de 10km, avistei o que achei que pudessem ser mergulhadores, mas, na verdade, eram duas tartarugas enormes. Naveguei bem perto delas e fui muito legal tê-las no nosso fim de prova!
Fizemos nosso último break, mais de 15h após a largada, perto de 5km do nosso destino final. Foi o momento do nosso último check-in, pensar no quanto percorremos, no esforço que fizemos, no problemas que vencemos e no pouco que faltava. Já começamos a experimentar o gostinho da conquista e para fechar com chave de ouro, gritamos “Kamon!!!”
A Hannah desceu do barco e se juntou ao PO. Eles queriam chegar em cima da mesma prancha. O Jordan continuou na sua e eu na minha.
Tirei o boné, os óculos, o protetor de pescoço, a camiseta e a meia! Queria me sentir mais leve, mais livre, mais relaxado!
Agradecemos o capitão e o Alan pelo suporte e nos despedimos brevemente. Eles iriam levar o barco para uma marina ali perto e depois iriam de carro nos encontrar na praia.
Remamos por cerca de 1h. A cada remada, os prédios ficavam mais perto e pouco a pouco conseguíamos ver as pessoas. Cada remada era um alívio. O gostinho de conquista só crescia.
Durante toda a fase de preparação, eu pensava sempre em terminar bem a prova e não simplesmente chegar em terra firme e deitar na areia desabando de cansaço! Me lembrei que esse momento estava prestes a chegar e visualizei a postura que iria adotar assim que tudo terminasse!
Nos metros finais, remei bem devagar, curtindo cada segundo e olhando com sorriso no rosto para a praia e para as pessoas que estavam ali, torcendo e esperando nossa chegada!
O Jordan foi mais no embalo das marolas e chegou uns 2 minutos primeiro, depois eu, PO e Hannah.
Deitei na areia! Mas não para descansar, muito pelo contrário! No último break, decidimos que não só chegaríamos, como faríamos 5 burpees, 10 agachamentos e 15 flexões. Haha, foi exatamente o que fizemos!
Com 1% de bateria no relógio, vi que havíamos percorrido 139km em 16h10.
Enquanto tentávamos nos equilibrar, subimos no pódio e tiramos algumas fotos. Até a hora que fui dormir, andava como se estivesse acabado de sair de dentro de uma máquina de lavar. Nosso cérebro ainda estava tentando compensar o balanço do mar.
No final das contas, remei 118km (cento e dezoito quilômetros), por 15h20 (quinze horas e vinte minutos), gastando 10120cals (dez mil cento e vinte calorias)!
Obrigado a todos que torceram, mandaram mensagem, compraram camiseta, doaram, remaram, capitanearam, suportaram, se voluntariaram e fizeram parte dessa travessia de alguma forma!
FIM! (mas, pode ser que continue…)